segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Lembranças da Seca

A seca me lembra a labuta
Do valente homem do sertão
Que amansa a terra bruta
Com a enxada, a foice e o facão

Ele arranca do torrão seco
O pão suado de cada dia
Vira bicho, mas é homem do eito
É um pai de família.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Nem o pé, nem a serra...

O pé de serra que encantou o Rei do Baião, fazendo-o cantar aos quatro mundos, a beleza e as paixões de um povo, não é mais o mesmo. Imaginem a serra, imponente e bela nos tempos de juventude de Gonzagão, hoje ferida de morte, com chamboques que se avistam de longe, mas que de perto, são grandes ferimentos, provocados pelo gume afiado da foice e do machado. Com seus encantos, a serra continua misteriosamente encantada, e o homem, talvez com medo de se encantar por ela, prefere destruí-la a cantá-la, como fez o véi Luiz.
O pé de serra que cantou o véi luiz, não é mais a mesma serra, só ficou lá, a raiz.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Tropa de burros

Tropa de burros

Na curva da estrada
Uma mula apressada
Aponta no estouro
Do relho de couro
Guiando uma tropa
De burros cansados
À feira de troca
Com fardos pesados

O sopro ofegante
De um burro caído
Revela o semblante
De quem foi vencido
O queixo estirado
As patas dobradas
Um olho vazado
Pelas chicotadas

Não tem mais o pelo
No lombo ferido
Já pede arrego
Mas não é ouvido
O relho malvado
Estala de novo
Ferindo o coitado
Bem no cabelouro

Levanta aos tropeços
Batendo os cascos
Morrendo de medo
Dos relhos carrascos
As pernas tremendo
Joelho pelado
Das quedas no tempo
Do ofício malvado

Já velho e cansado
Porém orgulhoso
Esconde o cansaço
E ergue o pescoço
Apruma a carga
No lombo pisado
Faz força e larga
De dente trincado

Estrada comprida
E o sol a tremer
A tropa faz fila
Cumprindo o dever
Espera o comando
Que vem do chicote
E saem marchando
Num passo de trote

O velho tropeiro
De cara encardida
Acende o isqueiro
Dar uma cuspida
Bafora o cigarro
Apruma o chapéu
E faz um pigarro
Olhando pro céu.

Chico Braúna